sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ganhar(perder) a Vida?

Apesar da intensa discussão entre religiões e ciência, sobre a tentativa de definir quando o ser humano pode ser considerado efetivamente vivo, a sociedade capitalista matou a xarada: ganhamos a vida quando começamos a trabalhar.

A expressão "ganhar a vida", tendo esse sentido, é muito comum e consegue expressar muito bem o pensamento básico do sistema em relação aos jovens. Começamos a viver efetivamente em nossa sociedade quando adquirimos poder de compra. Quando arrumamos um emprego, dizemos que estamos tentando "ganhar a vida".

Porém ao pensar melhor sobre essa expressão, podemos ver que justamente quando estamos "ganhando a vida", deixamos de vivê-la. As horas diárias passadas no ambiente de trabalho vão se somando ao longo da vida, e no final podemos ver com clareza que a ganhamos a vida ao nascer, e a perdemos quando começamos a trabalhar!

Pior ainda, muitos começam a "perder a vida" pensando somente em acumular bens, como se isso fosse capaz de lhes trazer a vida perdia de volta, "reconquistando a vida" através de mais horas de vida perdida...que paradoxo. O homem nasceu para viver! Só que para viver precisamos de dinheiro, para ter dinheiro deixamos de viver...

Sou da opinião de que, se quisermos "ganhar a vida", que ganhemos fazendo algo que nos estimule a viver. Algo que nos faça levantar com um sorriso no rosto a cada manhã, pensando no belo dia que teremos em nosso trabalho e nos desafios que nos farão ser cada vez pessoas melhores. Que nossos corações se encham de alegria ao ver os amigos que descobrimos em nossas vidas, e trabalhos.

Já que temos que trabalhar, que seja em algo que enriqueça nossa alma, pois isso se leva para a vida toda. O bolso pode encher e esvaziar a qualquer momento, porém nunca deixará de se encher de papel. Que ganhemos a vida tento o melhor que ela possa dar: a vida em si!


sexta-feira, 31 de julho de 2009

O ônibus e a borboleta azul

Em uma noite fria de sexta-feira, enquanto muitos vestiam suas fantasias de felicidade, comemorando o final de mais uma semana, três pessoas esperavam.


Talvez esperasse por dias melhores, por um milagre, ou que talvez um pouco da famosa felicidade, estampada em programas e anúncios de tevê, finalmente entrasse em suas vidas. Só posso dizer, com certeza, que essas pessoas esperavam por um ônibus.


Sei disso pois, ao me avistarem, mãe, filho e filha se abraçaram, como se desejassem que eu lhes dissesse que não era preciso lágrimas, que os três poderiam passar aquela noite como uma família, que haveria comida na mesa e camas quentes para a noite.


Porém como meu trabalho é somente pegar e entregar pessoas, tratei de bufar forte e apressar a despedida! Ora, ela é só mais uma mãe, que como muitas outras levadas por mim, está a caminho de mais um turno de trabalho, assim como estou eu!


A estrada sobe e desce por uma serra fria e escura, com árvores e abismo formando um sinistro corredor polonês. O céu fechado não ajuda a minimizar o efeito claustrofóbico do cenário. A minha sede por ferro, concreto e asfalto aumenta. Corro mais rápido. Meu coração de metal bate mais forte. Rujo alto, para espantar o medo do silêncio e da noite.


Porém, quando a mãe e todos nós já pareciam ter aceito nossos amargos destinos, algo de estranho aconteceu. Uma borboleta azul entrou pela janela! Como assim, uma borboleta a noite e dentro de um ônibus?! Pode parecer estranho, mas foi isso que aconteceu.


O pequeno ser voava alegremente dentro de mim, como se seu trabalho noturno a fizesse ainda mais feliz. Olhou todos nos olhos e voou sobre suas cabeças, esquentando corações e arrancando sorrisos. As pessoas se entreolhavam, como se estivessem se vendo pela primeira vez, transmitindo alegria de umas para outras, e para mim.


Pareceu que a estrada se iluminara. O céu, definitivamente abrira. As árvores aplaudiam nossa passagem, e o abismo desenhou lindas imagens do mar. A visita de uma pobre borboleta, feliz com seus afazeres noturnos, foi suficiente para me despertar.


Tão subitamente como sua entrada, foi sua saída. A borboleta voou apressada, provavelmente por eu não ter parado em seu ponto…mas que culpa tenho eu, se estava a me encher de tamanha felicidade? Talvez meu coração tenha mais do que metal e gasolina…


Algo mudou em minha alma. Passei a deslizar pela estrada, saudando outros carros que por mim passavam, transmitindo felicidade. As pessoas dentro de mim já não pareciam tão infelizes com seus destinos. Nunca esquecerei de noite tão bela! Até hoje trabalho feliz, graças a semente que a borboleta azul plantou em meu interior de ferro.


Pena que naquele exato momento, a mãe não pode compartilhar de tamanho sentimento. Exaurida de seu trabalho diurno, a pobre matriarca adormecera. Quem sabe o que a borboleta azul poderia ter feito por ela? O trabalho a consume tanto, que não lhe resta energia para enxergar a vida que voa sobre sua cabeça.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Não tenha medo de ser você


O Senhor "F"
Vive a querer
Ser Senhor "X"
Mas tem medo de nunca voltar
A ser o Senhor "F" outra vez

O Senhor "X"
É o herói
Que na TV
Nunca perde o seu chapéu
E faz o Senhor "F" sonhar

Sonhar em ter
Pros outros ver
Olhos azuis
Ter um carro igual ao de "X"
E conquistar a mulher do patrão

Dê um chute no patrão
Dê um chute no patrão
Dê um chute no patrão

Você também
Quer ser alguém
Abandonar
Mas tem medo de esquecer
O lenço e o documento outra vez

Dê um chute no patrão
Dê um chute no patrão
Dê um chute no patrão

Senhor F, Os Mutantes - Os Mutantes (1968)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Olhe para dentro - desafio e desejo a todos nesse ano novo

Disfarça,
tem gente olhando.
Uns, olham pro alto,
cometas, luas, galáxias.

Outros, olham de banda,
lunetas, luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
sempre tem gente olhando,
olhando ou sendo olhado.

Outros olham para baixo,
procurando algum vestígio
do tempo que a gente acha,
em busca do tempo perdido.

Raros olham para dentro,
já que dentro não tem nada.
Apenas um peso imenso,
a alma, esse conto de fada.

Paulo Leminski - Rumo ao Sumo

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Alimente-se

Tempo virá em que os seres humanos se contentarão com uma alimentação vegetariana e julgarão a matança de um animal inocente como hoje se julga o assassínio de um homem.

(Leonardo da Vinci)


A cada dia que passa tento depender menos de alimentos de origem animal. Não quero questionar o que os outros pensam sobre isso, já que cada questionamento que me fazem tem uma resposta seguida de outro questionamento, e no fim vemos que não existem certezas sobre esse tema, somente dúvidas e opiniões pessoais.

Mas o que realmente me importa é o fato de me auto-questionar, de tentar ver as verdades que me foram impostas sem que eu percebesse e aos poucos mudando-as, racionalizando-as e gerando minhas próprias verdades, que num futuro serão questionadas, gerando novas verdades. No fundo, como Raul Seixas disse, duvido das verdades absolutas...inclusive das minhas próprias!

O que penso sobre as verdades absolutas, definindo estas como sendo as que reinam nas mentes da maioria das pessoas, é que elas só servem para esconder outras verdades, que se forem descobertas irão fazer com que alguém deixe de ganhar alguma coisa.

No processo de me tornar vegetariano tive que ver o que está por trás da carne, e o que percebi é que está um ser vivo que foi privado de tudo o que nós, seres vivos também, mais valorizamos: a liberdade. Não me importa se o boi está sendo bem alimentado, se tem espaço pra pastar ou se tem um médico de plantão para qualquer emergência, simplesmente esse boi não é livre.

Quero deixar de consumir alimentos de origem animal não por uma melhora na minha saúde, muito menos porque acho errado comer outro ser, mas sim porque a cada dia tento ser mais justo com todos os seres que são tão vivos quanto eu e você, e percebi que para ser justo preciso respeitar a liberdade que cada animal tem direito.

Não posso deixar de comer seres vivos, planta também é um ser vivo, obviamente, mas posso passar a me alimentar de seres que eram livres enquanto vivos, assim, me tornando cada vez mais livre, como eles o foram. Já ouviu falar que você é o que você come?

Então, alimente-se de liberdade que, enfim, livre você também o será.


Feliz seria a terra se todos os seres estivessem unidos pelos laços da benevolência e só se alimentassem de alimentos puros, sem derrame de sangue. Os dourados grãos que nascem para todos dariam para alimentar e dar fartura ao mundo.

(Buda)


Obs.: para quem acha que enormes plantações privam as plantas de sua liberdade, alimente-se de produtos agroflorestais.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Contribuições

Muito obrigado pelos comentários galera!!
Agora com essas férias prometo escrever mais. Por favor continuem acompanhando e opinando. Se alguem tiver algo que queira compartilhar é só me enviar que eu posto aqui.

Vão aí uns videos e uma tirinha, enquanto eu termino de dar uns retoques em mais algumas reflexões.


* Video enviado por Leo


* http://video.google.com/videoplay?docid=-1437724226641382024


* http://video.google.com/videoplay?docid=7065205277695921912



http://www.youtube.com/watch?v=uI7-aTt462M&feature=related



http://www.animamundi.com.br/web_galeria.asp?ano=2001&cod=93













Muito obrigado a todos!!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Informações

Sentado na escuridão do meu quarto noto uma luz vermelha piscando.

Ela mostra que toneladas de informações estão, nesse exato momento, passando por mim e indo em direção a um amontoado de ferro, plástico e vidro. Escuto seu coração batendo, seus pulmões arquejando e penso: O que essas informações realmente informam?

Refletindo um pouco, chego à conclusão de que elas não informam nada. Informam, talvez, que nossas vidas vazias não podem ser preenchidas com bites, scraps ou emails. Mostram-me que estamos perdendo tempo e desperdiçando nossas vidas, tentando acumular mais e mais informações inúteis. E para que? Para no final olharmos pra traz e vermos que não vivemos?Que nos tornamos as máquinas de nossas próprias máquinas?

Sei que estou sendo radical. Realmente há muita informação útil na grande rede. Mas você há de concordar que talvez, pensando por baixo, 80% é inutilidade. Então associe o meu pensamento exposto acima a esse tipo de informação, que é, infelizmente, aonde a maioria das pessoas desperdiçam seus tempos.

Precisamos analisar nossas vidas com mais cuidado. Não deveríamos planejar ter um carro ou uma casa grande. Deveríamos, sim, desejar ter uma vida!Acumular verdades e não ferro e papel.

Todos deveriam passar um tempo vivendo somente com o essencial. Um abrigo, água, comida e talvez uns amigos. Sem amarras que possam nos atrapalhar de ver a verdade, e de esquecer da grande mentira que contamos para nós todos os dias, quando nos levantamos da cama e nos forçamos a sorrir, para que nosso dia se pareça menos inútil.

Eu acordo e olho pro céu, para os olhos das pessoas e seres que amo, e lá vejo um décimo da verdade que busco nessa vida. E tenho certeza que vou correr atrás de cada migalha de verdade que eu puder encontrar.

Nossas vidas são pequenas, nossos corpos frágeis, porém nossas mentes e espíritos são infinitos. Engrandeça-os e, talvez, encontrarás alguma verdade que ilumine essa escuridão chamada o homem.


“Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito...”

- Shakespeare
Hamlet, Ato 2, Cena 2

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Interligação musical

Alguns meses atrás assisti a um show do The Who no famoso Isle of Wight Festival, se não me engano em 1970. Todos pareciam estar na mesma sintonia: banda, público, fotógrafos, jornalista, qualquer um que estivesse presente. As pessoas pareciam estar interligadas por algo invisível. Todos riam, pulavam, gritavam, se abraçavam, enfim, todos pareciam simplesmente estarem curtindo aquele momento sem esforço algum. Aquele show, aquelas músicas e aquelas pessoas pareciam fazer intimamente parte de cada ser e fluíam todos juntos, como uma folha em um rio descendo a montanha, indo de acordo com a correnteza. Todos pareciam um único ser livre e em paz.

Nos dias de hoje não me recordo de ver cenas como essas. Tudo o que vejo são pessoas amontoadas gritando enlouquecidamente em direção aos artistas no palco, como se eles fossem deuses ou seres supremos. Não parecem estar na mesma sintonia.

As pessoas lutam entre sí para estarem perto do palco, como se o show só valesse a pena pela simples visão dos artistas, e que se dane a música. Na verdade os próprios artistas parecem estar pouco se lixando para a música, tendo em vista a baixa qualidade das musicas populares hoje em dia. Mas isso é um assunto para outra discussão, o que importa agora é ver que as pessoas não são mais como a folha que desce o rio, ao balanço das águas (ou da música). Análogamente à folha, elas lembram um cachorro nadando contra a correnteza do mesmo rio, lutando para manter seu corpo fora d’água o máximo de tempo possível, sendo incapaz de se entregar ao sabor das águas que suavemente esculpe a montanha em seu trajeto. Para o cachorro, se deixar levar pela correnteza, aparentemente, significaria a morte.

Tudo o que escuto das pessoas que saem ultimamente, para shows, boates ou micaretas, é a pergunta: “Pegou quantos (as)?”. Nada contra beijar, mas pra mim parece que essas pessoas estão num mundo que esta prestes a acabar, e ficam enlouquecidas tentando saciar seus prazeres íntimos o mais rápido possível, sem se importar com uma verdadeira ligação com os seres que estão a sua volta. Para mim a diferença é nítida, beijar não é o mesmo que se interconectar.

Hoje em dia parece estar vigente a “ideologia do fim do mundo”. Não querendo entrar em choque ou analogia com a teoria do aquecimento global e as inúmeras catástrofes previstas para um futuro próximo. A ideologia do fim do mundo que eu sugiro é a idéia de que para ser feliz você tem que fazer ou ter tudo, têm que se sacia de todas as maneiras materiais e carnais, para certas pessoas ate espirituais, possíveis e o mais rápido possível.

Adorava a ingenuidade e simplicidade dos anos 60/70. Claro que as pessoas iam pra shows, se beijavam e transavam, mas o motivo delas estarem lá não era o sexo, era a musica e as pessoas. Parecia ser uma busca por autoconhecimento e pelo sentimento de interligação com aquele bando de gente que nunca se viu na vida mas que tinham muitas coisas em comum, a principal era ser um ser humano. Os festivais na época pareciam conseguir fazer isso. Não o festival, mas as pessoas que iam a ele.

A própria cultura hippie falava da volta à natureza, a uma reconexao com os outros seres vivos que dividem esse planeta com a gente. Acho que os festivais carregavam essa ideologia, as pessoas iam com essa idéia na cabeça e eram sintonizadas pela música...pelas drogas também, talvez, mas a música de repente unia as viagens de todos em uma viagem só, novamente em um único grande ser.

As informações vêm em um fluxo absurdo em nossas mentes. As pessoas trabalham frenéticamente e quando saem de férias continuam frenéticas. Já viu um comercial sobre cruzeiros?Aquele barco tem de tudo pra que você não fique um segundo parado. Carnaval na Bahia? Passe suas férias pulando atrás de um trio elétrico, beba toda a cerveja do mundo e beije o maximo possível. Não há tempo para respirar, parar e pensar na vida e no mundo, realmente tentar conhecer alguém e de voltar à natureza. A ideia de se conhecer parece estar esquecida em baixo dos papeis no escritório ou das janelas abertas do MSN.

Talvez não seja interessante para o sistema que você pare, porque assim, talvez, você consiga ver o quão podre ele é, quão vazia a nossa cultura e nossas ideologias são e, vendo tudo isso, você queira mudar e deixar de alimentar a roda que gira o sistema e as pessoas que ganham com isso vão deixar de ganhar. Sendo assim eles continuam tentando te manter vendado.

Mas novamente não queria entrar nesse ponto agora. Só queria mostrar que a magia dos anos 60/70 parece ter sumido dos ares desse planeta. O clima de revolta, luta pela liberdade e direitos iguais parece ter se evaporado. Talvez as pessoas achem que esses objetivos já foram atingidos e que não é mais necessário lutar por isso. Como elas estão enganadas, nada disso foi conquistado. Ainda estamos amarrados pelo sistema, e cada vez mais a corda parece apertar e as pessoas não conseguem senti-la.

Voltando ao The Who, assistindo e sentindo o clima que estava no ar nesse show fui invadido por um sentimento extremo de busca por liberdade. Senti vontade de estar lá, abraçar todos, pular e gritar, correr pelado no meio da multidão. Pelado significaria ser livre de tudo, seria ser somente um ser vivo, correndo feliz. Pureza e ingenuidade estão contidas nesse ato, ser livre e lindo, como todos os seres desse mundo. Um sentimento muito diferente e muito maior do que sair por aí transando com todos, como se o mundo fosse acabar.

Mas infelizmente esse tempo acabou. A revolta da juventude foi contida e parece estar tudo acabado. Fomos entorpecidos com programas de TV, o sexo foi banalizado, nossas ideologias esvaziadas e as músicas transformadas numa forma de enriquecimento pelos que às fazem. Não temos porque querer nos interligar, não temos pelo que lutar e o que nos unia perdeu-se nesse caos vazio em que vivemos.

Mas não desanime leitor, ainda exista uma fagulha de revolução, e esta pequena chama esta dentro de mim, de você e de todos. Revoltemos-nos individualmente, cortemos as cordas que nos amarram ao sistema e criemos uma consciência própria, já esta na hora de voltarmos a contemplar a natureza e a nós mesmos antes que acabemos. Está na hora de nos interligarmos, de nos amarmos e a todos os seres vivos desse planeta. Ainda há tempo de fazermos nossa própria revolução e, se assim fizermos, todos os dias que levantarmos pela manhã vermos o sol nascer e, sentiremos uma leve brisa da magia dos anos 60, ela ainda estar no ar e será possível senti-la viva dentro de nós.